quinta-feira, 26 de junho de 2008

Stefano - No caminho.

Se você leu o último post, o final deve ter ficado um pouco sem sentido e digo-lhe que é normal, pois faltou contar uma coisa - a mais importante delas, o que aconteceu no caminho. Como é de se supor, eu a encontrei, a gente se beijou, depois ela me ligou e a gente começou a namorar.
Pronto, se você gosta de resumos, pode ir para outras histórias, pois tudo que se explicará a partir daqui é meramente o desdobramento desses fatos curtos. Não vai embora? Não mesmo? Olha que eu te dei a chance de fugir desse romance babaca.

Vamos a história então!

Desliguei o celular, puis a mochila nas costas e fui embora. Leia em 'fui embora': atravessei toda a redação (despedindo-me de quem estava por lá), peguei o elevador, percorri a recepção e sai pela porta giratória principal. Parei. Respirei o vento meio frio daquela manhã, não chovia, mas estava nublado - o clima perfeito para assistir filmes antigos debaixo de várias cobertas.
Olhei ao redor e vi. Estranhei, armei a possibilidade de ser uma miragem, desarmei. Tentei aceitar que era verdade. Olhei o café numa mão, as pastas na outra, o casaco grande e negro, os óculos meio avermelhados, o cabelo preso, o sorriso. Sim, havia um sorriso no meio da cara, mas era um sorriso estranho - parecido com um riso de consolação ou de "me desculpa?", todavia era bonito.
O sinal fechou. Eu não me movi. Ela correu por toda a faixa de pedestre e parou na minha frente. "Oi", eu disse para mim mesmo. "Oi", imagino que ela pensou. Nenhuma palavra. Nada. Nada. E o tempo passava. Estávamos nós três: eu, Carolina e a fumaça do café que ora subia pelos nossos rostos, ora aquietava-se.
Pensando bem, aquele era o momento certo para beijá-la, mas faltou coragem, peito e iniciativa. Deixei que o acaso desse um empurrão, para ser mais específico, ele era um dos editores do jornal e, fatídicamente, esbarrou em mim ao sair do prédio e eu, por conseqüência, projetei-me em cima do copo dela e o líquido quente, para cima de seu casaco.
Imagine, a partir daqui, tudo em câmera lenta: ela se joga para trás e grita; o copo quebra-se ao chegar no chão; eu, cheio de mãos e vergonha, tento ajudá-la a se limpar; o cara que me empurrou até olha para nós, mas prefere ir embora.

Depois do beijo, o carro alugado chegou. Cada um rumou seu destino.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Stefano - dia de mudar as coisas.

Eu limpo o pó que estava aqui por cima. Sim, faz tempo que eu não escrevo por aqui, mas tem tanta coisa acontecendo numa velocidade muito alta. Por exemplo, outro dia mesmo estava em Nova Iorque resolvendo uns problemas pessoais, está bem, não eram tão pessoais assim, todavia não podiam ser adiados e, hoje mesmo, já estou de volta - ao blog, à São Paulo, ao trabalho, à minha casa.
Tem quem pense: "Estava no EUA e está reclamando! Ê vida boa!". É de direito humano pensar, mas devo informar-lhe e espero que acredite em mim: muito melhor teria sido ficar por aqui mesmo do que ir escutar bronca internacional. Pensando bem, talvez essa seja a grande razão do meu mal-humor dos ultimos dias: ordens. Sabe, nunca gostei muito de ter um chefe (espero que ele não leia isso), mas se tratando de um jornalista, o qual sou, é muito difícil não ser subordinado a alguém - seja editor, editor-chefe, dono do jornal e afins.
Num dia nublado do meu tempo de menino, sonhei em abrir meu próprio jornal. Não, era uma revista, a qual iria se chamar "Entre[linhas]". Passava horas criando as matérias, as crônicas, buscando fatos nas folhas imensamente cinzas dos jornais, porém o tempo - destruidor de sonhos - chegou imperceptívelmente e me fez esquecer todo o meu plano.
Não morri de tristeza, antes o tivesse feito, já que agora definho aos pouco pela vontade de abrir minha própria redação. Quero, mas falta dinheiro e coragem - criatividade e boa-vontade tenho de sobra, pode apostar.
Droga, mal-humor.
Droga.
Droga.

Fica aqui um pouco da outra história sobre Carolina&Stefano, pois ela deve ser bem mais legal que os desabafos de um jornalista de saco-cheio de tudo isso:
- Amor, boa noite.
- Boa noite.
E veio o beijo nem tão longo quanto desejado, nem tão curto que não possa ter sido sentido. Queria mais, queria muito pela vida inteira e, como eu era tolo, imaginei que teria.
Para quem não entendeu, vamos as devidas explicações: faziam seis meses que eu estava namorando Carolina e, tudo isso, se deu após um ano de amizade. Ela me amava, assim como eu - talvez mais, bem mais. Eu amava é claro.
No começo, sejamos justos, gostava.
Mas depois, aos poucos, com os meses, a saudade e um pouco de todo resto, acabei de apaixonando perdidamente, mas, exatos trinta e quatro dias depois, ela foi embora. Ainda escuto a porta batendo, o cachorro latindo, o portão fechando, o táxi partindo e o som do meu coração ecoando na casa silenciosa.

Pra quem quiser saber, nosso primeiro beijo não foi romântico o suficiente para passar na grande tela do cinema. Estava indo almoçar e sabia que ela estava me esperando, assim como todas as outras terça-feiras e quinta-feiras. Chegando no restaurante, para minha surpresa, ela não estava. Esperei. Esperei. Esperei e nada. Nada. Não quis comer naquela tarde, eu não tinha motivos para ficar tão frustrado, mas era amor (apesar de eu não saber isso na época).
Não trabalhei bem, meu texto não saiu muito inspirado, meu computador parecia mais lerdo, o tempo passava minuto a minuto como uma eternidade.
O meu relógio de pulso apitou seis horas: precisava ir embora. Ajuntei minhas coisas para dentro da mochila e, antes que pudesse dar qualquer passo, meu celular tocou. Tive medo que fosse ela e eu não tivesse coragem de não atender, por isso aceitei a ligação sem ver quem era.
Não era ela, mesmo.
- Obrigado, eu já tenho cartão de crédito. - desliguei antes da moça falar qualquer outra coisa.
Fui embora.

Cheguei em casa e abri um sorriso de orelha a orelha. Sentia o abraço do vento.
Tudo estava bem. Muito bem. Tudo estava ótimo!
Meu celular tocou.
- Alô.
A voz do outro despencou a dizer coisas e coisas e coisas, até que parou esperando a minha resposta. Eu demorei alguns segundos pensado na melhor forma de dizer aquilo, apesar de sabia que todos os jeitos seriam bons. Escolhi, respirei, falei.

- É, eu também te amo, Carolina.